quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Coerência e Incoerência - por Feizi Milani

(in) COERÊNCIA entre discurso e ação Há poucos dias escrevi sobre a importância das conversações que mantemos cotidianamente - o quanto elas direcionam nosso pensamento, afetam nosso estado emocional e influenciam os ambientes. Fiz um apelo a que busquemos elevar o teor de nossas conversas, dotando-as de significado e relevância, tornando-as um elemento do processo de busca de melhorias na família, comunidade e sociedade em geral. O que falamos é uma das marcas que deixamos no mundo. Nosso discurso é uma das ações que concretizamos. Diante dessa colocação feita por mim, uma amiga querida lançou uma excelente provocação: “E se o que falamos não é coerente com o que fazemos?”. Ao refletir sobre a pergunta, me dei conta que essa INCOERÊNCIA entre o que se diz e o que se faz pode ser analisada por (pelo menos) dois prismas - de acordo com o estágio da evolução humana em que o indivíduo se encontra, e de acordo com o “lócus” em que a incoerência é identificada. Tentarei elaborar um pouco sobre essas duas categorias e seus subtipos. (1) INCOERÊNCIA de acordo com os ESTÁGIOS EVOLUTIVOS DO INDIVÍDUO: (1.1) É um tipo de incoerência que faz parte do processo de amadurecimento. Em geral, a mudança ocorre primeiro em nível de pensamento, depois da fala e, por fim, na conduta. É muito fácil observar isso em crianças. Essa incoerência revela que ainda não se alcançou a maturidade necessária para integrar e alinhar pensamento-fala-ação em um todo coerente. Mas o indivíduo tem a intenção sincera de evoluir e aprender a colocar em prática aquilo que já sabe ser o correto e necessário. (1.2) Por outro lado, a incoerência pode ser uma manifestação de falsidade e hipocrisia - quando o indivíduo não tem a sincera intenção e o esforço consciente de mudar, mas faz questão de "pregar" aos outros que eles devem fazer X ou não fazer Y. O indivíduo se acomodou no erro e insiste que os outros façam certo ou exibe seu discurso como prova de sua idoneidade. (2) INCOERÊNCIA de acordo com o lócus em que é identificada: (2.1) Em si mesmo: Quando eu percebo que meu discurso e meu comportamento não são coerentes, tenho diante de mim uma grande oportunidade de transformação. Se eu me olhar no espelho da Verdade, sem máscaras, serei capaz de aceitar que essa incoerência precisa ser superada. Para isso, tenho que evitar dois grandes perigos: (a) justificar meu erro com estratégias de autoengano ("faço porque todo mundo faz", "é errado, mas tem coisa muito pior por aí", "os fins justificam os meios", "não sou santo", "eu já me esforço em tantas outras coisas" etc.); (b) cair na culpa e autocondenação, porque a culpa nos imobiliza, paralisia e leva à repetição do erro. Evitando essas duas armadilhas do ego, e exercitando a veracidade e autenticidade, eu conseguirei evoluir em direção à coerência. Mesmo que haja tropeços no caminho, buscarei perseverar em meu propósito. (2.2) No outro: Quando identifico a INCOERÊNCIA NO OUTRO - e isso é bem mais fácil de que percebê-la em si mesmo - eu me vejo diante de um dilema: quais são as intenções do outro? Em que estágio evolutivo ele se encontra? Será que ele tem consciência de sua incoerência ou sequer se deu conta? Será que ele tem tentado mudar ou está acomodado? Será que há sinceridade em seu discurso ou é hipocrisia? É um dilema porque não tenho como responder essas perguntas, não há como enxergar o que está no coração do outro. O comportamento de alguém é visível, identificável, mas as intenções são invisíveis. O perigo, nesse tipo de situação, é cair no julgamento. Mesmo sem saber o que vai dentro do outro, eu me coloco na posição de juiz e decido que ele é falso. Aí estou invadindo um campo que não é de minha alçada. Mas... se essa pessoa é alguém que eu amo, desfruto de proximidade e tenho condições de conversar amorosa e construtivamente, então eu posso dialogar com ela, fazer perguntas que a ajudem a identificar a incoerência, compartilhando meus próprios desafios de crescimento - tudo isso com a mais sincera motivação de ajudá-la a crescer e se tornar uma pessoa melhor! Por fim, é preciso salientar uma EXCEÇÃO a tudo isso. Todas as reflexões acima dizem respeito àquilo que não transgride a lei, não fere os outros, não transpõe os limites da Justiça e do bem-estar coletivo, não gera sofrimento. Ou seja, se a incoerência entre discurso e ação se refere, por exemplo, à corrupção... então, estamos falando de crime! E aí, o que vale é a conduta, não as intenções. Tampouco importa em que estágio de amadurecimento o indivíduo se encontra. Crime é crime, precisa ser julgado nas instâncias apropriadas e receber a pena apropriada. Portanto, cada um de nós precisa focar sua atenção em identificar suas próprias incoerências (sempre existirão!) e seus esforços em se tornar uno, ou seja, um só, inteiro, íntegro, um em pensamentos, fala e ações. Coerência é a meta! FEIZI MASROUR MILANI·SEXTA, 16 DE DEZEMBRO DE 2016

Minha Mensagem de Natal

"Outro dia o filho que não tenho, e que já é grandinho o bastante para fazer esse tipo de pergunta, perguntou-me, olhando para o mundo, se existe esperança.
Era época de Natal e ele queria que minha resposta o enchesse de inspiração e de bons sentimentos; uma resposta que o capacitasse a abraçar o futuro com olhos brilhantes e pés otimistas. Queria, em outras palavras, uma mensagem.
Esta, meu filho, é uma resposta que palavras não podem dar - menti o menos que pude, e invoquei não sei de onde um sorriso.
Quando ele for mais velho direi que não, que não há qualquer esperança. Andaremos lado a lado por um caminho no meio da tarde e confessarei que não enxergo esperança no mundo, nas religiões e instituições e, ainda menos, em mim mesmo. Direi que as belas mensagens otimistas que os homens trocam em ocasiões solenes são distrações que não chegam nem de perto a alterar a dura malha da realidade. As pessoas não se tornarão mais generosas, menos mesquinhas e mais iluminadas, porque vivi quarenta anos e a cada dia me distancio mais, eu mesmo, desse ideal ilusório.
Ele me olhará nos olhos e, sem dizer nada, abrirá um meio sorriso, porque verá que, embora não exista esperança, embora eu esteja convicto de que não há, cultivo ainda assim alguma.
Se tudo der certo, com o passar dos anos ele aprenderá a guardar a esperança como eu: como quem tem vergonha de permanecer criança e continuar olhando com fascinação para a chama de uma vela que qualquer um pode apagar."
(Paulo Brabo, AQUI)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Vida Provisória


Em meio às "lágrimas de cristo" floresce a Epiphyllum Oxypetallum, a flor de um cactus, conhecida como Dama da Noite.

São 23hs. Amanhã, ao amanhecer o dia, ela já estará murcha, sem vida.