sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Melhor! Melhor? ...

"Porque, como vimos, o melhor tem se mostrado con­sis­ten­te­mente insu­fi­ci­ente. O melhor nunca nos basta, e pelo menos nesse sentido tem se mostrado con­sis­ten­te­mente pior, vez após outra. Agora, que demônio nos faz con­ti­nuar a abraçar a ilusão de que uma nova melhoria, que nos custará um mundo, poderá chegar a nos satis­fa­zer?
O peso ide­o­ló­gico do termo “melhor” é para todos os efeitos o grande impe­ra­tivo cate­gó­rico da civi­li­za­ção oci­den­tal: sua supre­ma­cia e sua sufi­ci­ên­cia são a única una­ni­mi­dade no nosso universo plural, o último artigo de fé comum, sendo que não requer con­ver­são e não admite ques­ti­o­na­mento.
Como disse-me Bruce Sterling, numa conferência que ele usou para infectar-me com muitas das inqui­e­ta­ções que estou tratando aqui:
Os sucessos do pro­gresso tornam-se pro­ble­mas espi­nho­sos para a geração seguinte: não per­ma­ne­cem per­ma­nen­te­mente “melhores”. Nossos juízos de valor sobre o que é melhor são tem­po­rá­rios, intei­ra­mente limi­ta­dos à nossa pers­pec­tiva no tempo. Não existe um “melhorô­me­tro”; ninguém tem como medir a extensão, a ampli­tude e a duração de uma “melhoria”. Melhor é um juízo abstrato de valor, não uma qua­li­dade cien­tí­fica; não pode ser testado expe­ri­men­tal­mente. Ninguém sabe o que é melhor; na verdade, ninguém sabe o que é pior. É tremenda inge­nui­dade acre­di­tar que cada des­do­bra­mento tec­no­ló­gico é neces­sa­ri­a­mente um avanço.
Ou, como pon­de­rava Jung:
Recusamo-nos a reco­nhe­cer que toda coisa melhor é comprada ao preço de uma coisa pior.
Ou Jacques Ellul:
O pro­gresso não é uma ameaça à natureza, mas à liber­dade."
...
(Paulo Brabo, em "A Espada Circular" na "Bacia das Almas". Se você não ficou irresistivelmente atraído para ler todo o texto , você nunca será melhor...)