quinta-feira, 8 de maio de 2014

#Somos Todos... Não Somos?


Um interessante diálogo ocorre nas redes sociais em função de casos aparentemente desconexos que aconteceram nos últimos dias, especificamente, o caso da banana atirada contra o jogador brasileiro na Europa e o linchamento da mulher no litoral paulista.

A hashtag #somostodos... foi utilizada à exaustão de diferentes formas e até em oposição uma à outra. Pessoas diferentes, mas com a mesma boa intenção, defenderam com veemência tanto o “somos todos” quanto o “sou diferente”.

Inspirado pelo pensamento complexo de Edgar Morin, quero refletir com vocês sobre a realidade de sermos, sim, todos e ao mesmo tempo não sermos.

Não “sermos todos” é bastante óbvio, não é? Desde o fato de nem todos sermos pretos até a certeza de que o linchamento foi obra de alguns ensandecidos, fica claro que fazemos parte de uma diversidade enorme de posições e pensamento. É irreal e mesmo injusto juntar “alhos com bugalhos” e jogar todos na mesma cova do racismo, do ódio e da culpabilidade. Alguns, não só não são culpados como são ativos e participantes da luta contra o racismo, a violência, etc.

Por outro lado, em muitos aspectos “somos todos”, sim. Somos todos responsáveis pela sociedade em que vivemos e por aquilo que nela acontece. E caso alguém pergunte: “Mas o que eu poderia ter feito? Moro a milhares de quilômetros do Guarujá, nunca estive lá, não conheço a mulher morta nem seus linchadores... sempre fui contra a violência, contra a boataria, e apoio o devido processo legal... o que eu poderia ter feito?” A resposta imediata pode ser: “Nada”.

Mas, mesmo quem é um ativista dos direitos humanos deve compreender que se algo assim ocorreu é porque tudo o que foi feito até agora para impedir que algo assim acontecesse foi insuficiente. E, nesse caso, sim, somos todos responsáveis. Devíamos ter feito mais. Muito mais.

E o que precisa atingir o nosso coração agora não é o horror, não é o desânimo, não é a revolta, nem a inercia, o “não estou nem aí”, o “a minha parte eu faço”, “isso é obrigação do governo” (da igreja, do partido, dos outros enfim).

Precisamos é de um sentimento de solidariedade (#somostodosum), de insuficiência (sozinho eu não posso, mas juntos podemos melhorar), de esperança (há de melhorar), de humanidade (reconheço a complexidade dos problemas e o potencial de resolvê-los).

Não me sinto culpado pela banana atirada, nem pela absurda morte de uma inocente. Mas me sinto responsável por não ter feito mais para que coisas assim não existissem e esse sentimento deve me empurrar a agir em favor das respostas, das soluções, da compreensão maior entre os seres humanos, da justiça e da paz.

Só assim valerá a pena continuar vivendo.

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