sexta-feira, 14 de junho de 2013

Qual é a questão?

"Fui e vi que a questão agora é maior do que o preço do ônibus. Vi que a polícia bateu em muita gente sem motivo. De graça. Vi mesmo. Era tudo covardia. Bombas em quem estava sentado pedindo por “não-violência”."
(Trecho de texto publicado AQUI.)

A questão é que o sistema não atende as aspirações - justificadas ou não - da população e os detentores do poder são ineptos para atentar ao fato de que Copa do Mundo, carros novos e programas mirabolantes - bolsa-família, PAC, etc - NÃO satisfazem os anseios do povo.
Este, quer sentir que seus representantes realmente os defendem dos interesses egoístas e perniciosos dos grandes conglomerados empresariais; quer ações que promovam o bem estar da população.
Não é isso que está acontecendo. E as manifestações vão continuar, e a violência vai aumentar. Infelizmente.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

"Aos que ainda sabem sonhar" - por André Borges Lopes

"O fundamental não é lutar pelo direito de fumar maconha em paz na sala da sua casa. O fundamental não é o direito de andar vestida como uma vadia sem ser agredida por machos boçais que acham que têm esse direito porque você está "disponível". O fundamental não é garantir a opção de um aborto assistido para as mulheres que foram vítimas de estupro ou que correm risco de vida. O fundamental não é impedir que a internação compulsória de usuários de drogas se transforme em ferramenta de uma política de higienismo social e eliminação estética do que enfeia a cidade. O fundamental não é lutar contra a venda da pena de morte e da redução da maioridade penal como soluções finais para a violência. O fundamental não é esculachar os torturadores impunes da ditadura. O fundamental não é garantir aos indígenas remanescentes o direito à demarcação das suas reservas de terras. O fundamental não é o aumento de 20 centavos num transporte público que fica a cada dia mais lotado e precário.

O fundamental é que estamos vivendo uma brutal ofensiva do pensamento conservador, que coloca em risco muitas décadas de conquistas civilizatórias da sociedade brasileira.

O fundamental é que sob o manto protetor do "crescimento com redução das desigualdades" fermenta um modelo social que reproduz – agora em escala socialmente ampliada – o que há de pior na sociedade de consumo, individualista ao extremo, ostentatória e sem nenhum espaço para a solidariedade.

O fundamental é que a modesta redução da nossa brutal desigualdade social ainda não veio acompanhada por uma esperada redução da violência e da criminalidade, muito pelo contrário. E não há projeto nacional de combate à violência que fuja do discurso meramente repressivo ou da elegia à truculência policial.

O fundamental é que a democratização do acesso ao ensino básico e à universidade por vezes deixam de ser um instrumento de iluminação e arejamento dos indivíduos e da própria sociedade, e são reduzidos a uma promessa de escada para a ascensão social via títulos e diplomas, ao som de sertanejo universitário.

O fundamental é que os políticos e grandes partidos antigamente ditos "libertários" e "de esquerda" hoje abriram mão de disputar ideologicamente os corações e mentes dos jovens e dos novos "incluídos sociais" e se contentam em garantir a fidelidade dos seus votos nas urnas, a cada dois anos.

O fundamental é que os políticos e grandes partidos antigamente ditos "sociais-democratas" já não tem nada a oferecer à juventude além de um neo-udenismo moralista que flerta desavergonhadamente com o autoritarismo e o fascismo mais desbragados.

O fundamental é que a promessa da militância verde e ecológica vai aos poucos rendendo-se aos balcões de negócio da velha política partidária ou ao marketing politicamente correto das grandes corporações.

O fundamental é que os sindicatos, movimentos populares e organizações estudantis estão entregues a um processo de burocratização, aparelhamento e defesa de interesses paroquiais que os torna refratários a uma dinâmica entusiasmada, participativa e libertária.

O fundamental é que temos em São Paulo um governo estadual que é francamente conservador e repressivo, ao lado de um governo federal que é supostamente "progressista de coalizão". Mas entre a causa da liberação da maconha e defesa da internação compulsória, ambos escolhem a internação. Entre as prostitutas e a hipocrisia, ambos ficam com a hipocrisia. Entre os índios e os agronegócio, ambos aliam-se aos ruralistas. Entre a velha mídia embolorada e a efervescência libertária da Internet, ambos namoram com a velha mídia. Entre o estado laico e os votos da bancada evangélica, ambos contemporizam com o Malafaia. Entre Jean Willys e Feliciano, ambos ficam em cima do muro, calculando quem pode lhes render mais votos.

O fundamental é que o temor covarde em expor à luz os crimes e julgar os aqueles agentes de estado que torturaram e mataram durante da ditadura acabou conferindo legitimidade a auto-anistia imposta pelos militares, muitos dos quais hoje se orgulham publicamente dos seus crimes bárbaros – o que nos leva a crer que voltarão a cometê-los se lhes for dada oportunidade.

O fundamental é que vivemos numa sociedade que (para usar dois termos anacrônicos) vai ficando cada vez mais bunda-mole e careta. Assustadoramente careta na política, nos costumes e nas liberdades individuais se comparada com os sonhos libertários dos anos 1960, ou mesmo com as esperanças democráticas dos anos 1980. Vivemos uma grande ofensiva do coxismo: conservador nas ideias, conformado no dia-a-dia, revoltadinho no trânsito engarrafado e no teclado do Facebook.

O fundamental é que nenhum grupo político no poder ou fora dele tem hoje qualquer nível mínimo de interlocução com uma parte enorme da molecada – seja nas universidades ou nas periferias – que não se conforma com a falta de perspectivas minimamente interessantes dentro dessa sociedade cada vez mais bundona, careta e medíocre.

Os mesmos indignados que se esgoelam no mundo virtual clamando que a juventude e os estudantes "se levantem" contra o governo e a inação da sociedade, são os primeiros a pedir que a tropa de choque baixe a borracha nos "vagabundos" quando eles fecham a 23 de Maio e atrapalham o deslocamento dos seus SUVs rumo à happy-hour nos Jardins.

Acuados, os políticos "de esquerda" se horrorizam com as cenas de sacos de lixo pegando fogo no meio da rua e se apressam a condenar na TV os atos de "vandalismo", pois morrem de medo que essas fogueiras causem pavor em uma classe média cada vez mais conservadora e isso possa lhes custar preciosos votos na próxima eleição.

Enquanto isso a molecada, no seu saudável inconformismo, vai para as ruas defender – FUNDAMENTALMENTE – o seu direito de sonhar com um mundo diferente. Um mundo onde o ensino, os trens e os ônibus sejam de qualidade e gratuitos para quem deles precisa. Onde os cidadãos tenham autonomia de decidir sobre o que devem e o que não devem fumar ou beber. Onde os índios possam nos mostrar que existem outros modos de vida possíveis nesse planeta, fora da lógica do agrobusiness e das safras recordes. Onde crenças e religião sejam assunto de foro íntimo, e não políticas de Estado. Onde cada um possa decidir livremente com quem prefere trepar, casar e compartilhar (ou não) a criação dos filhos. Onde o conceito de Democracia não se resuma à obrigação de digitar meia dúzia de números nas urnas eletrônicas a cada dois anos.

Sempre vai haver quem prefira como modelo de estudante exemplar aquele sujeito valoroso que trabalha na firma das 8 da manhã às 6 da tarde, pega sem reclamar o metrô lotado, encara mais quatro horas de aulas meia-boca numa sala cheia de alunos sonolentos em busca de um canudo de papel, volta para casa dos pais tarde da noite para jantar, dormir e sonhar com um cargo de gerente e um apartamento com varanda gourmet.

Não é meu caso. Não tenho nem sombra de dúvida de que prefiro esses inconformados que atrapalham o trânsito e jogam pedra na polícia. Ainda eles nos pareçam filhinhos-de-papai, ingênuos em seus sonhos, utópicos em suas propostas, politicamente manobráveis em suas reivindicações, irresponsavelmente seduzidos pelos provocadores de sempre.

Desde a Antiguidade, esses jovens ingênuos e irresponsáveis são o sal da terra, a luz do sol que impede que a humanidade apodreça no bolor da mediocridade, na inércia do conformismo, na falta de sentido do consumismo ostentatório, nas milenares pilantragens travestidas de iluminação espiritual.

Esses moleques que tomam as ruas e dão a cara para bater incomodam porque quebram vidros, depredam ônibus e paralisam o trânsito. Mas incomodam muito mais porque nos obrigam a olhar para dentro das nossas próprias vidas e, nessa hora, descobrimos que desaprendemos a sonhar."

(postado no Facebook, no dia dos namorados de 2013)

terça-feira, 11 de junho de 2013

O que você faz pra ser feliz?

O grupo "Pão de Açúcar" lançou uma segunda campanha focada na Felicidade: "O que você faz pra ser feliz?"
Cantada por Clarice Falcão, música e letra são excepcionalmente simples e "catchy". Dá vontade de ver, ouvir e cantar várias vezes.
Há muitos anos, Luis Tatit apresentou sua visão bem humorada da felicidade e de suas causas.
Creio que ela responde de forma contundente à pergunta que a Clarice canta no comercial:


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Minha fé


Deísmo e Teísmo

Deísmo e teísmo são terminologias teológicas que definem em termos quantitativo a participação e envolvimento de Deus com o mundo e particularmente na vida do homem.

Há grupos que acreditam que tudo o que acontece no mundo é resultado de uma participação direta ou indireta de Deus. Que o que ocorre no universo está tudo absolutamente sob o seu controle, e que cada evento foi meticulosamente articulado e planejado de acordo com sua soberana vontade. Por ser um Deus pessoal e relacional, até mesmo às decisões individuais de cada um, ele está atento e presente em cada detalhe de suas vidas.

Outros, entretanto, enfatizam a transcendência absoluta de Deus e seu estar totalmente separado do mundo. Deus se encontra nos céus e nós no mundo. Não existe nenhuma ligação entre estas dimensões. Não há relação! O único elo entre Deus e os humanos é a sua intervenção em juízo e graça. Neste aspecto é atribuído ao homem toda a responsabilidade por seus atos e escolhas. Seja para o bem ou para o mal.

Se me perguntarem se sou teísta ou deísta, respondo que sou teísta com traços de deísta e vice e versa. 

Mas que prefiro não dar nomenclatura a minha crença. Estes termos tendem limitar minha expressão de fé. Pois caminho livremente entre estes dois opostos sem ter minha concepção truncada e impedida de ser re-significada, ora pelas contingências, ora pela necessidade de reorganização de meu pensamento. Pois se Deus é infinito, logo, toda nossa compreensão acerca dEle deve estar em aberto, afinal Ele não está preso as nossas lógicas e convenções.

Todo ‘ismo’ é fechado, a fé é aberta. A confissão de fé de quem é inteligente é construída na vida, na existência, no caminho. A estrada se abre enquanto se caminha e o caminho se faz enquanto anda nele.

(Texto de Donizete Aparecido Vieira e que reproduz o cerne da minha definição teológica atual)

Novas leis, velhas desculpas

Estatuto do Nascituro
Pronto! 
Conseguimos inventar um bom motivo pra ficar brigando em lugar de por mãos à obra para resolver os problemas que já temos consenso. 
Trocamos ação pela discussão. Já li sobre o brasileiro ser "vocal", isto é, gosta da comunicação verbal. Assim, continua o blábláblá e as ações concretas para problemas urgentes são postergadas sem nenhum motivo. 
O Brasil não precisa de mais leis. Precisa de união em torno dos problemas - e são muitos - que podemos e devemos solucionar. 
Eu me recuso a entrar nessa discussão imbecil.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Afinal, de quem é a culpa? Do criminoso ou da vítima?

Os seriados policiais americanos, em sua maioria, mostram criminosos como indivíduos perturbados, ou maus, ou como pessoas que fizeram escolhas erradas. Raramente os filmes fazem alguma menção à responsabilidade da sociedade nos crimes cometidos por estes sujeitos. 
O que é um erro comum. 
Nós, aqui no Brasil, também temos o mesmo costume. Damos o peso total da culpa ao criminoso, não importa quem seja: um político rico e corrupto ou um adolescente iletrado da favela.
Mas, seria a culpa TODA dessas pessoas? Algumas vezes menciona-se traumas de infância, doenças mentais ou as más companhias como colaboradoras do criminoso. Sempre, porém, a culpa é, em última análise, de quem cometeu o crime. Pois sempre há alternativa. Sempre podemos escolher não fazer o mal. 
Individualizamos o crime e o culpado. Mesmo quando grupos agem praticando o mal, são apenas aqueles do grupo os criminosos.
Será assim tão simples? Por que nós nunca estamos dispostos a olhar para nós próprios em busca do culpado? Por que a sociedade que criamos e sustentamos é continuamente inocentada de toda responsabilidade?
Minha postagem anterior reproduz um trecho de Claudio Oliver, escrito pouco depois de sua casa ser assaltada à noite, enquanto ele e sua família dormia. Longe de isentar os ladrões de culpa, meu amigo apenas amplia a sua visão do problema que lhe aconteceu e aponta o dedo na ferida que nos recusamos obstinadamente a olhar: SOMOS TODOS CULPADOS.
O dia que criarmos coragem, reconhecermos este fato e assumirmos nossa parcela de responsabilidade pelas agruras que "os criminosos" nos infligem, neste dia estaremos dando início à mudança necessária e possível rumo à Paz e Justiça. 
E não se iluda... Nunca antes.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Assaltado!!!

Meu amigo, amigo da Paz, amigo de Deus - Claudio Oliver - foi assaltado.
Em meio ao transtorno pelo qual passa a vítima de um assalto, ele achou tempo para partilhar uns pensamentos conosco, via Facebook.
Eis um trecho, para sua meditação:

"...Os ladrões que nos roubam não são excluídos sociais que não tem onde viver; são seduzidos sociais pelo desejo de consumir, de ter e de se drogar, como os do lado de cá o fazem, de maneira protegida e treinada. Desejam e por desejarem, roubam. Pois de alguma forma percebem que não será o trabalho a si destinado pela estrutura da sociedade que lhes dará os objetos e prazeres que desejam, exclusivo de quem os pode ter. Eles não podem, não controlam seu desejos estimulado pela TV, pela sociedade e por sinais de riqueza, se drogam e buscam a qualquer preço o que desejam. 
Isso aconteceu comigo; acontece com um monte de gente, pelos mesmos motivos..."