quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Orós - poema do PV (O tempo passa...)

Esta é pros meus amigos do Acampamento PV, nos idos da década de 60...
Fechem os olhos, que vocês enxergarão o Ciro no palco, declamando:
ORÓS
A chuva chegou , devagarinho,
como quem não vai ficar.
Deu um banho de chuveiro
no cajueiro menino
lá da porta do curral.
Zefa ria de contente;
meu filho pôs-se a chorar.
Peguei Raimundinho de ano
e botei lá no balanço
da rede de buriti…
Ficou pra lá… e pra cá…
Miado de gato com fome ,
a rede pôs-se a miar.
- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais!”
- Deixa chover, Zeferino.
O teu boi morreu de sede.
Morte, chuva não traz”.
- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais!”
E choveu o dia inteiro.
E choveu a noite inteira.
- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais”!
- Deixa chover, Zeferino.
O teu boi morreu de sede,
afogado na poeira
que o sol jogou no sertão.
Plantamos e não colhemos,
pois a seca disse:- Não!
E, quando a chuva chega,
tu ficas a reclamar ?
Não pode mesmo ser muito
quem nunca vem pra chegar…”
- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais.
Vamos pegar o menino
E botar o pé no mundo
Que isto não é vida não.
A gente escapa da seca
Vai no dilúvio afogar ?
Zefa, junta os teréns e o Raimundo,
Vamos tocar o pé no mundo,
Vamos embora do sertão.
Esta terra é maninha
E é madrasta também.
Zefa, junta os teréns,
Jaguaribe-jararaca
ta” virando sucuri;
desde que me entendo por gente,
chover assim nunca vi!”
- Deixa chover, Zeferino.
Vamos ter canjica nova,
vamos plantar arrozal;
vamos engordar um porquinho;
paçoca, pamonha, pão…
Vamos aumentar a família:
um Raimundinho só não dá!
E quando os meninos crescerem,
A Zefa vai descansar…
Deixa chover, Zeferino…”
E veio a enchente bravia:
levou a casa da Zefa,
levou a Zefa afogada
e o Raimundinho também,
por estes mundos de Deus…
Abriu uma estrada, um caminho,
de sofrimento e de dor…
E, sem Zefa, sem rancho,
sem Raimundinho, sem nada,
o Zeferino, na estrada
segue falando sozinho:
Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais…”

5 comentários:

Nadie disse...

Poema triste e belo. A propósito, vim deixar seu Bom 2011 e um abraço virtual.

Unknown disse...

QUEM É O AUTOR DESSE POEMA?
OUVI A DECLAMAÇÃO DESSE POEMA FEITA POR DECIO BITTENCOURT EM 1965.

Anônimo disse...

ouvi ontem no sec com Tio Barnabe e me emocionei !

Norberto disse...

O poema é de Décio Bittencourt e foi imortalizado pelo João Acaiabe, o Tio Barnabé do Sitio do Picapau Amarelo. Infelizmente ele nos deixou no inicio de abril.
Norberto Lourenço Nogueira Jr.

José Lima Júnior disse...

Isso mesmo, querido Rubinho. Também me emocionava quando o Ciro declamava esse poema - tanto no APV quanto na IPB em Casa Branca. Abração.