quarta-feira, 26 de maio de 2010

Não há poder que se compare

Em 1948, Jorge Amado foi a Itália, havia grande chance do Partido Comunista Italiano ganhar as eleições e o comunismo assumir o poder pela via democrática. Jorge Amado, à época membro ativo do partido comunista no Brasil, viajou para testemunhar o momento histórico. O PCI perdeu as eleições, mas Jorge ficou na Itália e Zélia, sua esposa, foi de navio, com o filho João Jorge para encontrá-lo:

“Do cais eu a vejo no deck do navio, o infante ao colo, minha madona, o coração dispara no peito, enfim a terei em meus braços, não há poder que se compare.”
(extraído de “Navegação de Cabotagem”, texto autobiográfico de Jorge Amado, publicado em 1992, pela editora Record.)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O jeito brasileiro de falar português...

Escreve Jorge Amado em seu "Navegação de Cabotagem" que o escritor português Luiz Forjaz Trigueiro veio ao Brasil em 1964 só com roupas leves, para o calor baiano, mas "uma onda de frio abateu-se sobre a cidade" [Salvador] e o escritor decidiu comprar um agasalho. "Deteve-se ante uma loja: ali se exibia a peça exata que buscava"... "De lã, chique, discreta, na cor preferida, estava à sua espera. Luiz adentrou o estabelecimento, o vendedor acorreu solícito, colocou-se a seu serviço.
- Desejo comprar uma camisola - informou o literato luso, sorrindo com a delicadeza que o caracteriza.
Não menos delicado o balconista:
- O cavalheiro se enganou, aqui só vendemos artigos masculinos, mas na loja em frente, de artigos para senhoras, o senhor encontrará variado estoque de camisolas...
Não tendo entendido, algum engano havia, Luiz insistiu:
- Eu disse camisola...
- Já lhe disse que não temos - o caixeiro elevou a voz desconfiado que o simpático freguês fosse surdo de nascença.
- Como não tem, se acabo de ver na montra uma camisola castanha na medida própria?
- Onde disse ter visto camisola?
O balconista sentiu-se perdido, além de surdo o freguês falava uma língua desconhecida, nem espanhol, nem francês, menos ainda inglês, dialetos que o rapaz identificava, familiar sotaques e pronúncias. Não sabendo o que dizer, riu e coçou a cabeça. Um parvo, persuadiu-se Luiz Trigueiros, e, sem mais delongas, tomando-o gentilmente pelo braço - aos parvos deve-se tratar com firmeza sem , no entanto, abandonar a cortesia - , levou-o até a porta de onde, triunfante, mostrou-lhe a montra a camisola castanha:
- Ali está ela, a camisola, quanto vale?
A risada do rapaz não era mal-educada, mas continha uma ponta de deboche:
- Ilustre cavalheiro, fique sabendo que em bom português o senhor quer comprar um pulôver marrom igual ao que está na vitrine, não é isso? Por que não disse logo? Um suéter porreta e o preço é de arrasar...
Encontrei Luiz no hotel envergando a camisola castanha, ou seja, o pulôver marrom"... " o escritor estava indignado:
- O gajo diz-me duas palavras em francês, uma em inglês e afirma estar a falar em bom português!"

Este texto, dedico, carinhosamente, aos meu amigos portugueses da blogosfera. Que língua a nossa!!!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Porque a Internet me faz bem

Criado em família protestante (presbiteriana), desde menininho frequentei igreja dominicalmente. Assistia aos "cultos" - a "missa" dos protestantes - e participava da "escola dominical" - o "catecismo" dos protestantes. Por isso é natural que as pessoas que me conhecem - ou à minha família - me perguntem quando me veem: "Que igreja você frequenta?" A minha resposta negativa é vista com um misto de incredulidade e espanto. "Como? O Rubinho não vai mais à igreja? Deixou de ser crente?"
De certa forma é verdade. Deixei de "crente" no sentido de membro de organização eclesiástica, com suas estruturas e políticas, e adepto de um corpo doutrinário fixo, rígido, coerente.
De outro modo, continuo tão "crente" quanto era e até mais - espero - pois minha fé tem sido destilada, pouco a pouco, e percebo, o que tem "sobrado", com o tempo, é néctar de fino trato.
Não estou só. Além de minha querida família, tenho minha comunidade de "irmãos" com quem compartilho anseios e frustrações, ideias e pensamentos, planos e historia. Eles me dão, como nunca recebi antes em minha vida, matéria de primeira qualidade para testar e forjar minha vida neste mundo. Não os encontro somente aos domingos, senão que a qualquer hora posso te-los por perto. Só necessito um computador e uma conexão.
Eles são meus companheiros de blogosfera, cúmplices e parceiros nesta viagem pela vida onde nada é fixo, nem mesmo o alvo. E a transitoriedade da vida nos obriga a abrigar e dar abrigo, como grutenses, unidos pela frágil chama da esperança. São amigos que pouco vejo, alguns que nunca vi, espalhados por este mundão de Deus - Alemanha, EUA, Portugal, Paraiba, Minas, Paraná, Acre, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, etc.
Partilho com eles a fome e sede de justiça, de caridade, de generosidade, de ansiedade por um mundo um pouco melhor, um pouco mais humano, mais divino. E alguns nem partilham das mesmas crenças, mas estamos unidos pelo respeito e pelo impulso de não desistir, apesar dos pesares.
Esta sensação de "fazer parte de", de "estar com", de "unidade na diversidade" - e que diversidade! - é um bem imenso que eu preciso reconhecer aqui e agora.
Obrigado, meus amigos e amigas, por darem-se generosamente, por darem-me liberalmente o que de melhor vocês tem: sentimentos e ideais. Sou grato a Deus por vocês.

sábado, 15 de maio de 2010

Meu desejo pra vocês, amigos

O que desejo pra você
Wolodymir Boruszewski


O que desejo pra você
É um despertar super-tranqüilo
Um coração agradecido
Pois só de ter amanhecido
Já descortina tudo aquilo
Que só quem é grato vê
O que desejo pra você
É uma escalada matutina
Do pé do monte a cada passo
Deixar o chão, ganhar o espaço
Pois mesmo em densa neblina
No cimo ao longe se crê
O que desejo pra você
Vencida a escarpa, sobre o monte
É celebrar o ar tão puro
E se lembrar de um lar tão puro
Além da vista e do horizonte
Que só quem deseja vê
O que desejo pra você
É um retorno aconchegante
Por um caminho ensolarado
E um pôr-do-sol emoldurado
Pelos buquês mais deslumbrantes
Das floradas mais douradas de um ipê.
Wolô

Roubado, com a maior cara-de-pau, do meu mano Wolô, a partir do Facebook...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Vida Marvada

Foi um dos filmes brasileiros mais interessantes que assisti - não que eu seja um conhecedor do cinema brasileiro - porque tem muito a ver com minhas origens, do "caipira" paulista.
No filme há um personagem interessantíssimo, com o qual simpatizo. É um senhor perto dos 50 anos, que ao ser perguntado sobre alguma coisa, responde: "Me passou".
É a desculpa perfeita para quem deixou de fazer o que devia, ou falhou em cumprir com alguma obrigação - me passou! - e pronto. Está tudo explicado e justificado. E desculpado: "Não é culpa minha, me passou!".
A vida não é fácil. A todo instante acontece alguma coisa potencialmente nociva para você. Há inúmeras variáveis fora do seu controle, e qualquer uma pode dar errado e prejudicar você. E até aquelas sob seu controle podem acabar mal.
Nada melhor do que dar com os ombros, e dizer com sinceridade: "Me passou"

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sobre o quê?

"Eu tenho tanto pra te falar", cantava Roberto.
Por outro lado, eu não tenho nadinha... nadica de nada.
Então, calo-me.

domingo, 9 de maio de 2010

Tô de volta

O Tumblr é uma ideia legal, confesso. Mas ainda não é alternativa adequada para as minhas necessidades. Portanto, voltei. Quem sabe em futuro próximo...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Tumblr. ou "lightblogging"

O caderno "Link" de informática do jornal Estadão de 03  de maio pp traz uma interessante visão sobre as diferentes facetas do mundo dos blogues, com seus "microblogs" - como o Twitter, e os "lightblogs" que é o caso do meu novo Rubens Osorio.
Se eu gostar, abandono este aqui, como cachorro abandona osso roído, e mudo-me de computador em punho para lá - Tumblr.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Perto de Deus

"A coisa mais importante na vida... é ser famoso! Nada se compara à fama. Aparecer na TV é o melhor jeito de estar perto de Deus!!!"
 A personagem rica e bêbada do seriado da Sony TV "Will & Grace", na frase mais iconoclasta que ouvi recentemente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Trabalho dignifica o Homem...

“Não existe trabalho ruim, Chiquinha!
O ruim é trabalhar...”
Sabedoria do "Seo" Madruga, no programa de TV preferido do meu pai (de 83 anos): "Chaves"

domingo, 2 de maio de 2010

"Se eu quiser falar com Deus" - 2

Depois de uma quinzena maravilhosa na Bahia - Morro de São Paulo e Chapada Diamantina - aproximava-se a hora de voltar. Estávamos em Lençóis - charmosa pedra preciosa da Chapada - em pleno domingo à tardinha. Muita gente pelas ruas - estrangeiros, brasileiros, locais - nos barzinhos, nos restaurantes, nas lojinhas - ou só passeando a pé pelo calçamento antigo das vielas.
Também havia muito movimento de jovens porque uma igreja evangélica realizava ali um encontro jovem da região. Era possível ouvir a voz do dirigente e o som das músicas cantadas pelos participantes no recinto ao ar livre onde acontecia o encontro.
Eu e Elaine, sentados na sarjeta, curtíamos música brasileira cantada por um jovem em um barzinho, ao som de um violão. Outras pessoas também.
Comecei a pensar sobre a distância que havia percorrido na vida. Quando adolescente, eu participara de encontros de jovens como aquele. Pensei que devia sentir culpa por estar "curtindo" em pleno domingo em lugar de participar do "culto" religioso ali perto.
Sobrepondo-se ao meu raciocínio veio uma sensação gostosa por estar ali, uma impressão de "belonging" - de "fazer parte de" - que me aproximava do artista cantando Milton, Djavan, Gil, Marisa; me aproximava dos turistas estrangeiros que ao meu lado ouviam as canções, dos locais que serviam animados as mesas postas na calçada, dos casais que trocavam comentários alegres e apaixonados.
Eu senti que estava no lugar certo; que ali, por mais incrível que me parecesse, eu fazia o meu culto de adoração a Deus, grato pela vida, pela natureza, pelas pessoas, pela arte, pela companhia da Elaine, pelo privilégio de ter conhecido um pedacinho do céu chamado Chapada. Ficou claro que não precisava me separar, me isolar, me diferenciar, me excluir da humanidade para falar com Deus. Ele estava ali, comigo, ouvindo a música, curtindo ver as pessoas curtirem a vida com alegria e simplicidade, longe da violência, do tumulto, da ganância, da idolatria da sociedade globalizada, obcecada pela produção e pelo consumo.
Fiquei arrepiado. Estaria eu enganado? Hoje, quando relembro aqueles momentos, escrevendo este texto, ainda sinto que não. Não me enganei: Ele falou comigo e eu com Ele!

sábado, 1 de maio de 2010

Navegando

A leitura feliz de "Navegação de Cabotagem", do mestre Jorge Amado, tem-me remetido a fatos do meu passado e me dado vontade de retomar os textos de "O Tempo Passa...".
Para os jovens pode parecer ridículo e supérfluo, mas para mim, essas lembranças evocadas são puro deleite, mesmo quando renascem dores e sofrimentos do passado. Passaram, já não podem me atingir, e lembrar delas agora é mais prazer do que dor. E as alegrias antigas alegram-me outra vez com o vigor de piada nova.
Talvez essa seja a maior vantagem de uma vida longa: tanta coisa para relembrar!!!