terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Um grande erro

"...Ou não encontrou ainda Deus e ainda assim o amaldiçoa..."

("Il Giorno Piu Banale" - de Marco Masini publicado pelo P. Brabo em 25/12/2008)

Tenho lido com frequência postagens e comentários nos quais os autores se queixam da situação atual, seja própria ou geral, das guerras e dos cataclismas naturais, dos escândalos e crimes cometidos aqui e acolá. Muitas vezes, culpam Deus, em quem não crêem, pelos erros e barbaridades que pretensos fieis realizam em Seu nome. Não querem crer em um Deus que endosse ou permita tais atrocidades.

Não se enganem. Amaldiçoar quem não se conhece é meio seguro de cometer um grande erro...

13 comentários:

S. disse...

concordo plenamente!
E na minha vida deparo-me muitas vezes com pessoas que pensam assim!

carmen disse...

Também concordo...
Muitos falam do que nem conhecem...
E nem querem conhecer, e o culpam.
Como pode se culpar alguém em quem nem acreditamos que exista?!?!?

Gab Miglino disse...

E uma saída bastante conveniente pra não se responsabilizar, a final de contas "o inferno são os outros", não é mesmo!? O que é que, EU, tenho a ver com tudo isso?

Paulo Brabo disse...

Na canção os que amaldiçoam a Deus o fazem porque foram levados a "perder a confiança", e Deus é totalmente incapaz de realizar essa façanha. Apenas as pessoas são capazes de nos levarem a perder a confiança, e Deus é a vítima vicária dessa nossa incompetência. A culpa não é dos que amaldiçoam a Deus; foi esse o Deus que revelamos a eles com a nossa omissão.

Dona Sra. Urtigão disse...

Bem, creio que esta carapuça me serve.
Mas como conhecer quem (partindo da premissa de deus pessoal) não se dá a conhecer, apenas por suas obras e, convenhamos, obras diretas e indiretas,algumas não são lá essas coisas.Parto do principio da responsabilidade de tudo que fazemos e assim me sinto responsavel por todas as escolhas daqueles que criei, modestamente, sem pretensões a deusa, mas das ações de meus filhos, para sempre, mesmo considerado seu livre arbítrio, pois suas escolhas e ações decorrem de tudo que lhes foi apresentado e ai esta minha responsabilidade. Se há falhas são minhas tambem. Dai não crer num deus de infinita bondade e sabedoria ao qual somos imagem e semelhança, pois senão ele nos seria semelhante em nossas infinitas imperfeições.E um deus que assuma o bem e diga que o mal é culpa do outro...
Neste aspecto, prefiro a honestidade de Krishna, que ao se revelar a Arjuna se apresenta em sua forma universal como origem de tudo que há, bom ou mau, cabendo às criaturas as realizações de suas especificidades tão sòmente. O que não exclue o objetivo ultimo do atingimento de união com Ele, a busca da suprema perfeição e bondade.
Esclareçam-me, então, fiéis, já que não consigo entender um deus que se esconde em alguns aspectos.
Busco aqui, nesta existencia, a descoberta da Luz e da Sabedoria, do encontro de quem sou.
Abraço!

valter ferraz disse...

Rubinho,
a se partir dessa premissa não podemos amaldiçoar e tão pouco confiar. A bem da verdade, conhecer ninguém conhece a Deus. Imagina-se, acredita-se ou tema-se, porém conhecer de fato na acepção da palavra, não.
Enfim, sinto-me pequeno para dizer que realmente O conheço. Recolho-me à minha insignificância.
Nem por isso posso admitir que se blasfeme contra Ele ou suas criaturas, que do jeito que aprendí, somos feitos à Sua imagem e semelhança.

O Tempo Passa disse...

Caríssima amiga: não, a carapuça não era para você!!! Em verdade, para você fiz a postagem anterior, espero que você tenha lido!
Só uma sugestão sobre teu comentário aqui: O Brabo postou um texto - o capítulo 50 da série "Nasce um homem" - que toca na sua questão de modo melhor do que eu poderia explicar. Recomendo a leitura.
Meu amigo Valter: só conhecemos Deus na medida em que experimentamos seus atributos. É parcial e imperfeito, mas é conhecimento, um pouco mais do que podemos saber de um autor lendo seus textos.
Gabi querida: tens razão, o inferno somos nós que nos omitimos e depois xingamos os outros. Um bj.
Salvo engano, né!

Dona Sra. Urtigão disse...

Bem, o que entendo na (re)leitura do texto do Paulo, o Brabo, é que o deus em questão está em construção,em experiências do conhecimento de si, em desenvolvimento e então não é o Sumo Bem, apenas o melhor possivel,dentre aquilo que sabemos. O que aponta para a possibilidade de haver algo, desconhecido tambem ,hierárquicamente superior a este.
( Li sim o post anterior, fiquei encabulada com seu exagêro, mas agradeço a demonstração de amizade.)

Paulo Brabo disse...

É preciso lembrar que, segundo a narrativa bíblica, muita gente boa amaldiçoou a Deus -- pelo menos no sentido de atribuir (talvez justamente) a dureza da sua condição ou da condição humana à omissão ou deliberação divinas. Entre esses Elias, Jesus e mais de um salmista. Neste sentido, não acho que "o grande erro" denunciado pelo Rubens na postagem original seja erro assim tão grande. É por assim dizer a mais saudável das transgressões, coisa absolutamente necessária no caminho do conhecimento. Como sugeriu Tillich, os que amaldiçoam a Deus podem estar mais perto dele dos que os que simplesmente o ignoram.

Quanto à minha leitura (que, ao contrário do que você fez, Rubinho, eu não ousaria recomendar assim na cara dura a ninguém) ela tem a vantagem e a tremenda desvantagem de ser minha. Não creio que seja possível *argumentar* em favor do meu modo de ver as coisas, porque penso estar mais contando uma história do que tentando convencer alguém de que a história seja verdadeira. As acusações que a Dona Sra. Urtigão fez contra Deus podem muito bem ser levantadas por qualquer leitor da Bíblia; algumas são recapituladas (e de certa forma reforçadas) por Philip Yancey em Decepcionado com Deus. Não peço que ninguém acredite nele, muito menos em mim.

Não quero entrar em atrito com a Dona Sra. Urtigão, entre outras coisas porque ela menciona com respeito divindades que me interessam. Penso que não devo nem ao menos tentar convencê-la do meu ponto de vista, porque está claro que partimos de pressupostos diferentes. Pelo que veja a Sra. Urtigão associa o Sumo Bem a uma divindade inteiramente acabada e absoluta, que de nada carece e nada tem a aprender (não tenho como culpá-la, visto que este é em muitos sentidos o Deus proposto pelo pensamento cristão tradicional), enquanto o que estou tentando demonstrar em Nasce o homem (e, se entendo direito, Deus entendeu mostrar em Jesus) é que o Sumo Bem é eternamente provisório, eternamente frágil, perpétua experiência e permanente risco. A tal da vela que qualquer um pode apagar.

Lou H. Mello disse...

Xiiii! É verdade? Espero que o Brabo esteja certo.

Dona Sra. Urtigão disse...

Voltei.
Então fico com a seguinte duvida, com a qual ja havia acenado. se ha identificação entre o Sumo Bem e o Deus que falam, este então tambem seria
"eternamente provisório, eternamente frágil, perpétua experiência e permanente risco".E, como tal, passivel de ser apagado a sopros existencialistas ou quaisquer outros.( Nietzsche teria razão?)

Nadie disse...

Bem, a (des)razão de Frederico está em exatamente propor a nenhuma identificação entre um Bem Superior e a experiência sagrada, tal como Jesus propôs: Deus como uma experiência de abandono ao mundo. Uma descoberta, como fala Alberto Caeiro, de que nada há de escondido, de que o único mistério do mundo é que Tudo está à mostra. Abrir os olhos, des-velar o pensamento, des-cobrir-se, já que o mundo não é coberto. A experiência do Divino desde Buda, acho, é o processo de Singularização do Humano. Kirshnamurti já agora no século dos extremos, falava em desembaraçar-se do passado, no que falava, talvez, do aprendido, para conhecer Deus. Desembaraçar-se da domesticação a que cada homem é submetido no processo de socialização, desembaraçar-se das noções rígidas, dos conceitos preparados, dos medos ensinados e dos desejos recomendados.
Deus pode ser então não a perfeição da direção do pensamento para o objeto, nem aquilo na direção do que olhamos: Deus como experiência é um novo olhar sobre as coisas, desde o Vazio que há dentro do olho: está Cá e não lá. Lembre-se: Deus Conosco, o Verbo se fazendo carne. Deus é a carne humana com a fantasia temperando-a.
Assim, Deus fica sendo o impossível de existir nas palavras, mas que aquilo que é mais confiante em nós quer que exista. Por causa disso, o que não podemos nomear é o que está mais próximo da raiz do humano, lá onde a alma vira corpo e vice-versa.

Nadie disse...

Então, parece que culpar Deus é culpar um objeto que falta no lugar onde deveria estar, onde a vontade educada diz que deveria estar. Gosto de uma tirinha do Laerte em que, no dizer do Manning, o Realmente Real aplica um koan numa moça: A mulher chorosa de costas para o barbudo (como diz o Rubens), também ele de olhos tristes. E o diálogo começa com a reclamação da senhora:
"- Por que isso aconteceu? Por que?
- Não sei!
- Não dava pro senhor ter impedido?
- Não!
- Se não posso contar com o poder da sua mão, com o que posso contar?
- Com o ombro!"

O Laerte tem os olhos muito abertos, não é mesmo?