sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Justiça com as próprias mãos

E-mail que roda pela internet relata o caso de uma senhora na Austrália que, aos 81 anos, saiu atrás dos estupradores de sua neta, e, depois de achá-los e certificar-se que eram os malfeitores, descarregou uma 9mm que tinha guardado - apesar da proibição de porte de arma que vigora no país - na genitália de ambos, mandando-os para o hospital. Em seguida, entregou-se à polícia. As autoridades não sabem o que fazer com a velhinha: condenam-na ou dão-lhe um prêmio???
O mencionado e-mail tem o sugestivo título: "Deportem-na para o Brasil!!!"
Confesso que coisas assim dão-me o que pensar. Apesar de ter impulsos de justiceiro, não gostaria de ter oportunidade para tal: certamente eu, mais cedo ou mais tarde, cometeria uma injustiça maior - já cometo tantas pequenas injustiças no dia-a-dia! - e a responsabilidade pesaria demais sobre meus ombros.
A justiça da sociedade humana é lenta, parcial e falha. Mas a minha não seria melhor. Sou apenas humano!!! A musiquinha famosa há alguns anos bem dizia: "I'm only human, born to make mistakes" (Sou apenas humano, nascido para errar - grupo Human League). A sociedade não pode abrir mão do dever de impor o direito e a justiça. Deixar para indivíduos é abrir mão de uma responsabilidade indelegável. É tomar o caminho mais curto e fácil para o caos social.
Certamente admiro a coragem da senhora e creio que ela só desejava fazer justiça... ou seria vingança?? A vingança é algo bem mais simples e fácil: "olho por olho..." e por aí vai. Mas não se alcança justiça com vingança. O texto bíblico diz que "o fruto da justiça semeia-se na paz" (S. Tiago 3. 18).
Eu preciso crer nisso. Caso contrário, minha esperança, já tão tênue e maltratada, se enfraqueceria ainda mais. Não é com mais violência que se coibe a violência. Não será tomando a vingança nas mãos que se fará justiça e se promoverá a paz.
Deixem a velhinha por lá. Não a quero aqui, espalhando a ilusão de que se pode ter justiça e paz abrindo mão das prerrogativas da sociedade e afundando-nos ainda mais no individualismo nefasto. Mesmo que me custe sofrer injustiça por mais algum tempo, eu prefiro lutar para aperfeiçoar nosso sistema judiciário do que dar armas de 9mm para as velhinhas do Brasil.

11 comentários:

Vilma disse...

Se cada um começasse a fazer "justiça" pelas suas próprias mãos, então que seria o caos total.
Mas que a velhinha é rija, é! hehehehe

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Tirando a penalidade que a velhinha executou com as próprias mãos, nada impediria que ela pegasse os caras e os entregasse à polícia.

Talvez o que nos falta é essa coragem. Só isso...

bete p.silva disse...

Rubinho, como esse e.mail foi citado no meu blogue, justamente porque ontem eu abordei o tema de abuso sexual de crianças, eu tomei a liberdade de postar sobre isso hoje.

Confesso que fiquei um pouco decepcionada com algumas colocações, justamente por isso estou propondo que repensemos, uma reflexão à luz da maturidade cristã e da ética, convido você para ir lá opinar novamente.

O que acontece nesses casos, é que as pessoas carregam macro e micro conceito: sou contra tal coisa, mas...se fosse comigo...enfim.

Eu fico com essas palavras:

"...ouvistes o que foi dito, olho por olho, dente por dente...eu porém vos digo..."

Precisamos (nós cristãos) definitivamente assumir uma posição: ou somos seguidores de Jesus Cristo, ou não somos. Qualquer postura precisa partir dessa base.

Felipe Fanuel disse...

Caro Rubinho,

Estamos em sintonia mesmo, falando do mesmo assunto... Considero a punição como secundária. É uma conseqüência natural. Não o fim. A alma é que está doente e precisa de cura. O perdão é que precisa "acontecer" em algum momento. Acontecer significa que vai acontecer mesmo; não que precisará e deverá ser feito a qualquer custo. Acredito que o perdão é tão natural que chega a ser assustadoramente divino.

Obrigado por suas contribuições em meu blog. É sempre bom ouvir o que você tem a dizer. As a matter of fact, acabei de inserir o seu blog nos meus links.

Um abraço.

MamaNunes disse...

Até podemos compreender a velhinha, afinal, "...humanos, nascidos para erar..." Fazer dela um exemplo de conduta, foge completamente do nosso olhar cristão sobre as pessoas né mesmmm? estou contigo Rubinho.
Eu penso que minha "mania de justiça" me levaria a crucificar Jesus em defesa na fé judaica, se eu vivesse naquele tempo...acredita?
Porisso, fico na minha e assino embaixo: A Justiça é de Deus! Oremos pelos injustos e pelos injustiçados!

beijinhos querido mano...


Ahhh :o) Foi bem em sua estréia???

valter ferraz disse...

Rubinho,
foi Jesus quem disse que não devemos nos arvorar em juízes dos nossos semelhantes, eu acho. Meus anos de seminário mostram-me que aprendí pouca coisa por lá a não ser os rituais e cantos gregorianos (o latim e ogrego já se perderam nos escaninhos da memória por falta de uso0.
Mas, creio que o espírito seja esse mesmo. Para fazer justiça elegemos os juristas, de renomado saber (embora por vezes nos decepcionem com as notícias que aparecem). Contudo, ainda sou obrigado a crer na justiça humana para não desesperançar de vez.
A conduta da velhinha é compreensível, porque foi com alguém próximo a ela. Mas não rcomendável, pois pode gerar injustiça num efeito contrário ao esperado.
Te falei que era complicado o assunto. Mais que isso, mas não podemos nos furtar ao debate.
Gostei de discutir, ajuda a clarear as idéias. Botar o "tico e o teco" para funcionar. É isso.
Abraço forte

Lou H. Mello disse...

Pimenta no olho alheio é colírio. Não lembro bem que salmo é esse, parece que é 151:alguma coisa. Até a casa do vizinho, agiria de forma "equilibrada", como todos. Do muro para cá, enlouqueceria, com certeza. A velhinha agiu completamente insana. Era a neta dela, provavelmente, a mais querida, sua única razão de ainda viver aos oitenta e um anos.

carmen disse...

Quem quiser ler a respeito, cheguem lá no Blog da Bete, que eu fiz o primeiro comentário, encaminhei o vídeo em questão aos meus amigos e escrevi outro comentário lá no Blog da Bete, complementando o primeiro...
bjs

Dona Sra. Urtigão disse...

Sei não, acho que primeiro agiria e depois me arrependeria...Ou não agiria e depois me arrependeria...Aguardar a justiça de Deus não é, de certa forma desejar vingança ? Que o malfeitor seja punido ? E aceitar que Deus perdoe tambem a tal malfeitor ?

* O Cantinho da Lia * disse...

Disseram que devemos perdoar e dar a outra face...
Tem coisas que são fáceis de perdoar, tem coisas que são mais difíceis.
Eu perdôo a velhinha, pq ela agiu num momento de fúria.
Aos estupradores, a castração.

Fábio Adiron disse...

Interessante no conjunto dos comentários é que todos se colocaram no lugar da velhinha,

Vamos supor agora que vocês fossem os pais ou mães dos estrupadores... como ficaria a posição de cada um ?